Papa Léguas

"Tudo o que se refere ao homem é dotado de contingência"... Vidal de La Blache (geógrafo)

28.6.05

Parabéns Galiza!

Finalmente, após anos de conservadorismo centralista de Fraga e do PP, a Galiza passa para as mãos do PSOE e PNG (socialistas e nacionalistas galegos). Esta solução de coligação será a que mais interessa neste momento ao povo galego rumo`à autonomia.

Parabéns Galiza

24.6.05

Fogo na praia

Vou deixar aqui apenas algumas notas sobr os acontecimentos na praia da Fgueira na noite de São João, onde o fogo-de-artifício. Como é possível ter acontecido um acidente daquelas dimensões?

Em primeiro lugar, o sítio escolhido para o fogo-de-artifício é o mais errado em termos de segurança, mesmo numa praia grande como a da Figueira.

Em segundo lugar, os agentes de segurança foram completamente passivos, não montando um perímetro de segurança adequado.

Em terceiro lugar, mesmo que esse perímetro tivesse sido montado, certamente teria havido feridos. O bar da praia, a mais de 150 m do local de lançamento, foi atingido pelo fogo rasteiro. Isto só corrobora o que já disse: nunca a praia deveria ter sido o local de lançamento.

Parece-me, finalmente, que foi grande a irresponsabilidade da empresa no modo como montou o dispositivo. Pareceu-me claro que o problema principal se deveu a uma manga incandescente estendida entre postes de onde saíram faíscas que fizeram outros foguetes entrar em combustão, o que dscontrolou o espectáculo. Tenha sido assim ou não, parece-me que houve falha grosseira na segurança ao ser montado o espectáculo.

Estive lá e vi, e se já não era muito dado a foguetaria agora ainda menos...

22.6.05

100 dias de oposição - Daniel Sampaio

N'A Capital de hoje, Daniel Sampaio avalia a oposição. Em muito pouco discordo:

"Depois dos primeiros cem dias de governo, qual o estado da oposição? Marques Mendes confirma tudo o que sobre ele escrevi: é um honesto, esforçado e diligente segundo. Quem consegue imaginar este político sério a galvanizar o PSD até uma grande vitória eleitoral? O seu papel será sempre o de reequilibrar a desafinada orquestra, numa direcção segura (mas apagada) de um intermezzo de pouca qualidade. Falta conhecer o maestro que trará a nova partitura, a música que anuncia a vitória. Toda a gente do PSD sabe isto, e a delicadeza com que Marcelo e Manuela F. Leite tratam este discreto funcionário do partido é o sinal de que não acreditam que ele veio para ficar: morrerá no seu posto, sem sangue nem glória.
Jerónimo de Sousa gere o luto de Cunhal e a força das estruturas sindicais, que têm capitalizado bem o descontentamento social. Comete o erro de Carvalhas, ao considerar que PS e PSD são o mesmo e que a «política de direita» continua. Não compreende que futuros sucessos do PS na área social, após as primeiras medidas de contenção, farão a diferença face a Barroso e Santana.
Louçã parece cansado. Já deveria ter proposto uma data para o referendo do aborto (Novembro, por ex.) e, como economista, era-lhe exigida mais criatividade nas críticas ao problema do défice.
Ribeiro e Castro faz o seu caminho e vai surpreender: teve já o mérito de nos mostrar como Portas fez mal à direita civilizada."


Daniel Sampaio in "A Capital", 22/06/2005

21.6.05

Brincadeiras de Bush: os mortos têm cara

O Washington Post publica as fotografias dos solados americanos que já perderam a vida na guerrinha de Bush. Boa iniciativan porque os mortos têm cara. Pena que não se mostre também as caras dos iraquianos inocentes (não dos extremistas e bombistas, claro).

RTPN ultrapassa SIC Notícias

Parabéns à RTPN pelo seu trabalho meritório, que já deu para ultrapassar a SIC Notícias.

Ver notícia no DN

CIA sabe do paradeiro de Bin Laden...

O chefão da CIA veio dizer que conhece o paradeiro de Bin Laden. Não sei porque é que ainda desconfio que não sabe coisissima alguma...

Numa entrevista à revista "Time", Porter Goss considera que o maior obstáculo à captura do homem mais procurado do mundo é a existência de "santuários em nações soberanas".

Pois, mas que eu saiba nunca a CIA teve obstáculos em colocar agentes em qualquer cenário mesmo contra os regimes vigentes...

20.6.05

Luís Delgado, o Obstinado

Vem hoje Luís Delgado, no DN, perguntar para quem governa este governo.

Partindo do pressuposto de que as medidas a entrar em vigor vão tocar a todas as classes, LD afirma que o governo governa para si próprio e para mais ninguém. "Para quem governa, afinal, este Executivo? Para si próprio - 16 ministros e umas dezenas de secretários de Estado? Será que esta interrogação essencial não os preocupa? Será que não percebem que têm de governar para o país, e com o apoio inequívoco de uma maioria?"
Pois bem, recordo que ainda há pouco, com outra cor no governo, este senhor defendia muitas destas mesmas medidas para controlar o défice, e o mais grave é que não estava o país numa situação tão má, com Bagão Félix a prever um défice de 2,8 % para 2005 e a comissão Constâncio a prever já mais 4 % a somar a este valor, 4 % de erro, portanto (que não é minimamente desculpável, apenas porque o primeiro valor seria uma projecção feita com grande antecedência, uma dada a enorme diferença de valor).


O governo não pode ouvir estes senhores comentadores, tem sim é de tentar alterar este cenário de uns previsíveis mais de 6 % de défice nas contas públicas. O que, não sendo uma surpresa absoluta, constitui um entrave a muitas das promessas eleitorais do PS.

19.6.05

Racismo, xenofobia e PNR...

Apesar da tentativa de demarcação do Partido Nacional Renovador em relação à organização da manifestação de ontem no Martim Moniz, o que é certo é que, para além de aí ter vários dirigentes, a organização esteve a cargo da Frente Nacional, que não é mais que um dos tentáulos dos mesmíssimos nacionalistas.
Para além do programa que teve a demostração de estupidez (com várias intervenções de dirigentes do PNR), basta atentar nos links que as suas páginas propõem recíprocamente, o símbolo o qual apenas na cor se altera, entre outros factos demonstradores da ligação do PNR a este evento xenófobo e nazi.
A Causa Nacional, também ligada a estes, fez uma reportagem fotográfica na qual tenta escamotear o facto de a manifestação ter tido como membros únicos os skins, mostrando transeundes como se estivessem na manifestação. No entanto, nem esta reportagem consegue esconder os símbolos nazis, skin entre outros (como os da FN e PNR).
Nesta repostagem dão-se ao luxo racista de apelidar os contra-manifestantes (maioritariamente negros) de "macacos" (ao falar de macaquices no final da manifestação).
Penso que o Governo Civil deveria ter tido mais cuidado ao manusear este dossier, e penso mesmo que há que estudar a legalidade do PNR e da FN e do seu direito a existir, estando amplamente documentada a sua clara ligação a movimentos NAZIS e FASCISTAS.
O que é certo é que as ligações entre estes organismos são bastante claras, inclusivamente com a Causa Nacional, já que podemos inclusivé observa as mesmas fotos nos sites das duas organizações.
Aqui ficam os símbolos praticamente iguais da FN e do PNR (uma evidência estridente ignorada pelas autoridades competentes):


É caso para dizer, TODOS DIFERENTES, TODOS IGUAIS...

18.6.05

"Novas" criminalidades e extrema direita


Como é apanágio de toda a extrema-direita que se preze, a criminalidade que ocorre em Portugal é toda atribuida aos "imigrantes", principalmente os "pretos". E a verdade é que situações como a do "arrastão" de Carcavelos não ajuda coisa alguma.
Mas na verdade tal não corresponde à verdade, nem a culpa das eventuais situações de criminalidade pertence aos ditos imigrantes (muitos são já de segunda geração, uns com a nacionalidade portuguesa, outros não).
A nossa sociedade é que não acolhe como deveria, não integra, não educa, foge às responsabilidades. Depois acontece isto. Grupos de jovens completamente desintegrados, pertencentes a bairros sem qualquer promoção de acção social, sem escolas, sem referências... ou seja... um "gueto"! Temos em Portugal um "apartheid" não declarado. E na África do Sul já vimos o que acontece quando a repressão atinge uma "etnia": o resultado, na comunidade portuguesa que apoiou o regime branco, é fatal, com centenas de mortos.
Vamos integrar, vamos humanizar. Só com uma cidadania plena se pode impedir que estejamos perante um ciclo vicioso e as próximas gerações de imigrantes vivam um estigma que arrasta o ciclo.
Não fazer como a extrema-direita xenófoba, que não se coibe de aproveitar estas situações para defender a sua dama do fim da caçã ao imigrante.
Por todas as razões e mais alguma, sou contra a "manifestação" marcada pelos extremistas para o Martim Moniz.

17.6.05

Desertificação atinge 30 % do continente

Esta é uma questão que me preocupa especialmente enquanto geógrafo.

A desertificação física (dos solos) e humana estão estreitamente ligadas e no caso português, como noutros, a desertificação antrópica vai decidir da desertificação pedológica.

O despovoamneto do interior (com a fuga da população em direcção aos centros do litoral e em relação às suas sedes de município) estará a provocar o abandono das terras de cultivo e silvucultura, sendo que os fogos, por exemplo, se tornam devastadores.

Como nota positiva fica o facto de que "usando dados históricos e as sequências do desenvolvimento da desertificação em Portugal, este programa permite desenhar cenários. Lúcio do Rosário explica que, analisando os factores de ameaça físicos, ecológicos e sociais, "estamos a caminhar rapidamente para um total de dois terços do território susceptível à desertificação". Este programa visa uma intervenção que evite este cenário, através de medidas que passam essencialmente pela actividade agrícola, florestal e imobiliária.

A nível local, várias universidades aglutinaram-se num projecto denominado Rede para a Observação e Análise do Fenómeno da Desertificação e da Seca, com vista a desenvolver uma acção preventiva. Amílcar Soares, do Instituto Superior Técnico (IST), aponta a necessidade de reunir várias investigações sectoriais e aplicá-las a um problema transversal como é a desertificação. O professor do IST acredita que a falta de atenção dos políticos para um fenómeno que ultrapassa os ciclos eleitorais poderá ser colmatada com um conhecimento sistematizado."
(DN, 17/06/2005

Socialistas e independentistas galegos a um passo...

O (des)governo de Fraga, do PP espanhol, está a chegar ao fim, segundo o DN.
Assim espero eu e todos os que crêem que a irmã Galiza tem o direito a, pelo menos, uma maior autonomia acompanhada pelo respeito da sua cultura, muito própria e que tem a mesma origem que a portuguesa.
Que isto signifique que o galego-português dê um paso na sua afirmação!

Papa Léguas divide-se

A partir de hoje vou dividir a temática sobre a qual escrevo em três blogs. N'O Papa Léguas, temática mais diversificada; n'p Xanax Com Cerveja, sobre música, escrita e arte; n'o Mais Europa, a temática europeia e a defesa do "sim" ao tratado.

14.6.05

O plano B para a Europa

Ainda de sábado, dia 8 de junho, o editorial do DN:

"O plano B para a Europa
O que vai continuar a vigorar é o Tratado de Nice, tão liberal como este, mais a tentação do diktat dos grandes e uma maior distância entre países contribuintes e beneficiários dos fundos de coesão"...

António Perez Metelo

Sem perdão, deixar um artigo destes sem menção aqui n'o papa léguas...

Referendos... Esclarecimento...


Olivier Deslondes, geógrafo como eu, deu uma entrevista ao DN na qual expressa a sua opinião quanto à questão do Tratado Constitucional.

Para além das suas posições científicamente sustentadas acerca da construção europeia, foi com surpresa que constatei, ao ser-lhe perguntado o sentido de voto, que tinha hesitado mas que ia "votar sim. Mas confesso que hesitei. Diria que a pergunta do referendo não nos é colocada a partir de Bruxelas mas por um Governo impopular e isto quer dizer que, no momento de responder, as pessoas estão mais a pensar no Governo do que na resposta. É uma forma de fazer oposição, até porque houve recentemente eleições em França, que produziram resultados críticos para o Governo e isso não foi levado em conta no plano político. E se vou votar "sim" é porque separo a questão europeia da política interna. Mas o que está a irritar os franceses é que lhes fazem uma pergunta e, a seguir, dizem-lhes que uma das possíveis respostas é inaceitável. O que é isto? Faz-se uma pergunta para se dizer que só há uma resposta certa? E com boa parte da classe política a dizer que só o "sim" é aceitável, os franceses sentem-se como que sob ameaça. E isto é profundamente contraproducente. Só desperta o seu espírito de contradição."

Ora aqui está. Quando até os mais esclarecidos como este geopolitólogo pensaram assim, imagine-se o que se passou nas cabecinhas dos francos...

13.6.05

Eugénio de Andrade, 1923/2005



Onde me levas, rio que cantei


Onde me levas, rio que cantei,
esperança destes olhos que molhei
de pura solidão e desencanto?
Onde me leva?, que me custa tanto.

Não quero que conduzas ao silêncio
duma noite maior e mais completa.
com anjos tristes a medir os gestos
da hora mais contrária e mais secreta.

Deixa-me na terra de sabor amargo
como o coração dos frutos bravos.
pátria minha de fundos desenganos,
mas com sonhos, com prantos, com espasmos.

Canção, vai para além de quanto escrevo
e rasga esta sombra que me cerca.
Há outra fase na vida transbordante:
que seja nessa face que me perca.


Eugénio de Andrade

Álvaro Cunhal, 1913/2005



A par de Mário Soares e Freitas do Amaral,Álvaro Cunhal foi o mais paradigmático grande político português da segunda metade do século século XX, cada um na representação da sua área ideológica mas todos fornecendo um ícone ao povo português.
Pelo modo como viveu e morreu, variadíssimas vezes perseguido, preso, torturado e exilado e pela forma como interviu no PCP desde os anos 30 durante a ditadura do Estado Novo e de forma marcante depois do 25 de Abril, recebe os epítetos de pessoa coerente, obstistinada, fortemente crente na sua ideologia, ou seja, no fundo profundamente preocupado com o futuro da humanidade, com as desigualdades e com um grande sentido de missão.

Com ele não partilho com os meios com que se pretende uma sociedade mais justa e menos desigual.

Ficam as palavras, "até sempre, camaradas"!

A ver, o dossier do Público relativo à morte de Álvaro Cunhal

10.6.05

"Bastardos" e outros "filhos de corno"

O que será mais hilariante? As declarações de um detentor de um dos mais altos cargos políticos nacionais (presidente do governo regional da Madeira), que apelidava de "bastardos" e "filhos da puta" os "senhores da comunicação social do continente", ou a tentativa de legitimar tal linguagem e postura por parte dos deputados que sustentam a sua maioria regional? E o que dizer do minuto de palmas com que esta aclamou o "alto-dignatário" que as proferiu...

Por outro lado, as declarações dos membros das outras bancadas também deixou a desejar em termos de educação - um certo deputado disse que se as palavras lhe fossem dirijadas, "ia às bentas" do Dr. Jardim...

Enfim, política de República das Bananas que em nada dignifica o povo madeirense.

8.6.05

The Economist e o "não"

É extraordinário. A Constituição sofre ataques de todos os quadrantes radicais. O que só demonstra a sua validade enquanto instrumento norteador de uma europa democrática e social.

Segundo o EU-business a The Economist apoia o "não". Diz que a Constituição é muito reguladora.

Sem esforço encontramos argmentos exactamente opostos no "não" radical de esquerda.

Uma preciosidade do texto:
"While some in France had argued the document was economically "ultra liberal", the magazine -- a proponent of free market economics -- said this was not so, although the title "wishes it were so"."

Prós e Contras

O Prós e Contras transmitido pela RTP a 06/06/2005 foi pródigo no "desmascaramento" dos "argumentos" do "não".

Argumentos como a contabilidade de palavras (tão bem rebatida por Vital Moreira), a importância dos parlamentos nacionais, o processo de feitura do Tratado, o "excesso de visionarismo", entre outros argumentos no mínimo ridículos. Ou seja, a repetição dos argumentos chauvinistas de que apenas Pacheco Pereira não partilhou, preferindo seguir pela questão da inutilidade do Tratado.

Pelo lado do "sim", não gostei do argumentário de Miguel Beleza, excessivamente ligado à questão monetária do Euro.

Vital Moreira foi o grande vencedor do debate, com a sua convicção e o dossier bem estudado, o que lhe permitiu desmistificar grande parte do argumentário do "não", nomeadamente a acusação do esxessivo neoliberalismo do tratado, a do excessivo vanguardismo, a da fraca participação e futura importância dos parlamentos nacionais, tratados por V. M. depois no Causa Nossa.

Estes temas acabaram por constituir o cerne do debate.

6.6.05

Há referendo em Portugal

Segundo o Público, irá mesmo haver referendo em Portugal sobre o Tratado para a Constituição, mesmo após a (prevista) suspensão em terras de Sua Majestade...

"A decisão do Governo do Reino Unido de suspender o referendo sobre a Constituição europeia não afecta a posição portuguesa, que defende a manutenção da consulta popular, afirmou hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros. Apesar da posição oficial, Freitas do Amaral admitiu ter uma perspectiva pessoal diferente.".

Público online, 6 de Junho de 2005 - 22h11

"Não". Todos diferentes, todos iguais?

Quanto mais leio blogs do "não", mais me convenço que não existe real diferença entre as tendências do "não". Simplesmente, "não" é "não". É absoluto. Votando "não", vota-se incógnita.

A diferença existe, sim, entre o "sim" e o "não". Os mesmos que defendem o "sim", tenho a certeza, vão pugnar por uma alternativa. Os defensores do "não", vão continuar a bater-se contra a Europa.

O problema é que as extremas (direita e esquerda) aparentam (e só aparentam) ter saído vencedoras deste processo. Só que nós sabemos que não é bem assim. Os motivos que levaram à rejeição do Tratado deveram-se, antes de mais, a motivos internos (o que eu julgaria impossível em países tão avançados, uma mistura de temas tão díspares).

Esperemos é que esta aventura franco-flamenga não comprometa a construção europeia, como tanto estes "nãos" em tudo iguais o queriam.

Com a devida vénia a JPP, concordo com o que diz Carlos Vale Ferraz no Público de hoje - "A afirmação de alguns aprendizes de feiticeiro de que o Não ao tratado constitucional europeu é o Não da positiva, o Não que permite refundar a Europa noutras bases, tem a mesma lógica que alguém esmagar os dedos a um pianista mediano com o argumento de que quer fazer dele um grande guitarrista!".

Marcelo Rebelo de Sousa abre o "€ sim"... em dia "não"!

O professor e comentador Marcelo Rebelo de Sousa abriu hoje o ciber-sítio € Sim.

Por nefasta coincidência, a data corresponde também ao princípio do fim do processo...

Improvável o referendo ao Tratado no Reino Unido

Segundo a cobertura do Times ao processo da ratificação do tratado para uma constituição para a Europa Jack Straw, chefe da diplomacia do Reino Unido, refere admitir a "inutilidade" da sua continuação:

"Jack Straw announced this afternoon that the Government was shelving the UK referendum on the European Union constitution, despite French and German demands that British voters be asked to vote on the ill-fated treaty.

The Foreign Secretary told the Commons that the rejection of the constitutional charter by French and Dutch voters put the ball in the court of EU leaders, and there would be no point continuing with a Bill paving the way for a UK vote to be held early next year.(...)".

4.6.05

Exijam-se explicações aos defensores do "não"

São pelo menos duas as explicações que os defensores do "não" devem dar sob pena de perder toda e qualquer credibilidade:

1 - Quais as consequências do "não"?

2 - Qual a alternativa ao Tratado?

3.6.05

"Latitude zero" - Miguel Sousa Tavares

"(...) O paradoxo é que só uma Europa mais forte e com objectivos novos, com uma política externa e de defesa comum, pode dar resposta aos novos desafios globais. Essa Europa poderia começar a formar-se a partir da Constituição - bem ou mal feita, incompleta ou completa demais, mal ou bem defendida perante os eleitores, Mas não será seguramente feita perante a paralisia e a indecisão ou pelo reflexo de autoprotecção, de cada um por si, face a um mundo hoje definitivamente mais incerto e menos seguro, conforme a história da União nos tem ensinado, a cada novo passo em frente na Europa - Maastricht, Schengen, Euro, alargamento a Sul e a Norte - o tão criticado voluntarismo soube sempre encontrar depois a razoabilidade necessária para consumar os avanços sem traumas. Lembrem-se do que foi o debate sobre o euro, as catástrofes que nos anunciaram com a introdução da moeda única (em Portugal inclusive, cuja moeda nada valia!) e perguntemo-nos que europeus dispensariam hoje viver sem a moeda única. A Constituição europeia podia até ser um mau passo em frente, mas a sua adopção continha sempre alternativas e soluções adequáveis casuisticamente, conforme as necessidades. Era um manifesto de intenções, todas elas aceitáveis, e um enquadramento normativo suficientemente amplo para permitir trabalhar dentro dele em direcção a uma Europa mais forte. A sua rejeição, porém, não vejo que alternativas e que futuro deixe reservado. Os defensores do "não" não sabem hoje o que fazer com a sua vitória. Mais: nem sequer sabem ou conseguem explicar o que significa a vitória, qual é a ideia de não-Europa que pode unir nacionalistas de extrema-direita a comunistas e trotskistas.
(...)
A Europa é mais importante que o nosso prórpio umbigo. E, mesmo que a Europa continue sem portugal, seria decisivo que ela continuasse. porque é o único horizonte de esperança, de cooperação, de paz, de resistência económica, de sobrevivência social e de reafirmação dos nossos valores civilizacionais, face a um mundo que em breve ser+a de novo bipolar, entre os Estados Unidos e a China. Como? Pois, isso é que ninguém sabe, a começar por aqueles que mais deviam saber: os que defenderam e defendem o "não à Constituição europeia".


Miguel Sousa Tavares, Público de 03/06/2005

"Nacionalistas e Ultraliberais reforçados"

Jean-Marc Ferry, da Universidade Livre de Bruxelas, analisa as consequências dos dois votos, no Libération.

Para aperitivo, fiquem com as consequências que o Prof. aponta à rejeição: Quelles seront les conséquences d'un échec du traité ?

"Quelles seront les conséquences d'un échec du traité ?

Les tenants du non assurent que, d'une manière ou d'une autre, les négociations vont reprendre parce qu'on ne saurait faire l'Europe sans la France. Cela signifie néanmoins qu'on prend beaucoup de retard dans un monde en pleine mutation. Mais contrairement à ce qu'affirment les partisans du oui, je crois que cela ne sera pas trop difficile de tirer des conséquences cohérentes d'un non pourtant composite. Avec raison en revanche, le camp du oui souligne que l'UE risque de rester au traité de Nice. Le plus grave me semble être l'atteinte à l'unité politique franco-allemande même si l'amitié politique entre les deux pays résistait. Sans ce tandem, l'UE sera de plus en plus la proie des nationalistes et des ultralibéraux, soit un résultat contraire à ce que souhaitaient les non de gauche. En peu de temps, l'Union risque en effet de se voir défigurée en une zone de libre-échange. Elle perdra l'aura qu'elle commençait à avoir dans le monde, comme exemple de construction métanationale."

Washington Post: T.R. Reid em entrevista

No Washington Post, uma excelente entrevista online ao repórter T.R. Reid, autor do livro "The United States of Europe: The New Superpower and the End of American Supremacy,".

A ver algumas das ideias que os americanos têm de nós.

"Não", porque "não"!

Não é engraçado que são alguns dos que reclamam mais democracia na construção europeia os que votam "não"?? É uma questão a reflectir... Talvez uma leitura ao tratado não lhes faça mal!

Bartoon 3 de Junho



Laís Afonso
Público 03/06/2005

2.6.05

Para os que votam "não", tomem o Plano B(lair)

"Le «Nee» batave, massif et sans appel, poursuit le film-catastrophe dont le «Non» français a été le premier épisode. La Constitution a servi à la Haye comme à Paris de bouc émissaire à des colères aussi multiples que contradictoires - contre les élites, les étrangers, la vie chère, le chômage, l'élargissement, ou la bureaucratie de Bruxelles.

Sans surprise, l'édifice quinquagénaire de l'Union européenne vacille de plus en plus. L'euro pique du nez, pas forcément une mauvaise chose pour les exportations, mais signal d'un début de crise de confiance. La poursuite du processus de ratification d'un texte mort-né paraît de plus en plus absurde, comme l'idée de sa «renégociation». Quand il faudra boucler le budget de l'Europe, on peut parier sur une foire d'empoigne d'«intérêts nationaux». Nul ne sait où le détricotage de l'Union pourra être arrêté, le traité de Nice accentuant le risque d'embolie fatale.

Chirac appelle maintenant ses partenaires à «analyser les conséquences du vote» en France lors du prochain sommet européen. On aurait préféré que lui-même en identifie les causes avant le vote. Il assure vouloir défendre le «modèle social français». Mais pourra-t-il le faire sans une Union dont la France fait encore partie? Or la quasi-totalité des Etats-membres de l'UE ne croit pas aux vertus dudit modèle.

Une fois coupée la voie de l'union politique, il va apparaître que le seul plan B pour l'Europe est celui de Tony Blair : s'en tenir à une vaste zone de libre-échange, aussi peu régulée que possible. La France, de droite et de gauche, pourfend ce «modèle anglo-saxon» (qui est aussi celui des Néerlandais). Mais elle risque de se retrouver dans la position anglo-saxonne traditionnelle vis à vis de l'Europe : un splendide isolement."

Libération, editorial 1/06/2005 - Patrick Sabatier

Libération - "os países Baixos dizem não à Constituição"

"Monsieur Plus serait-il néerlandais? Trois jours après les Français, les électeurs des Pays-Bas ont, selon les estimations de l'institut de sondage Interview/NSS, rejeté le projet de Constitution européenne par 63% des voix. La participation a atteint 62% pour ce scrutin consultatif, mais décisif puisque les partis politiques se sont engagés à respecter le verdict populaire. Quelque 11,6 millions d'électeurs des Pays-Bas, un des six pays fondateurs de l'Europe unie, étaient appelé à donner leur avis sur le texte lors de ce premier référendum dans l'Etat batave depuis près de deux cents ans. Et, malgré les appels des grands partis et du gouvernement à l'approuver, ils ont donné au traité un deuxième coup de grâce.

Le non néerlandais ne fera toutefois pas tomber le très impopulaire gouvernement du Premier ministre Jan Peter Balkenende (19% de satisfaits), à la différence de ce qui s'est passé à Paris mardi. En effet, quelque 80% des élus soutiennent le oui, et c'est le parlement, contre l'avis du gouvernement, qui est à l'origine du référendum.

Comme chez le voisin français, les causes du rejet sont multiples et le vote a cristalisé le mécontentement intérieur et le rejet d'une Europe qui inquiète. Peur d'une dissolution de leur petit pays dans l'Union à 25, crainte que Bruxelles se mêle de tout, baisse du pouvoir d'achat depuis l'euro se sont mêlés pour aboutir à un non largement majoritaire. Le camp hétéroclite du non a rassemblé les protestants les plus rigoristes, les populistes, le Parti socialiste, petite formation très à gauche, et le député d'extrême droite Geert Wilders, soit 22 des 150 sièges du parlement.

Selon les sondages effectués avant la consultation, certains Néerlandais ont voulu éviter que Bruxelles ne revienne sur leurs choix de société: consommation de drogues douces, mariage ouvert aux homosexuels ou euthanasie autorisée sous condition. Pour d'autres, les hommes politiques ont menti en promettant que le pouvoir d'achat ne baisserait pas avec l'euro. L'ancien directeur de la Banque centrale néerlandaise a récemment avoué que le florin avait été sous évalué par rapport au deutschemark lors du passage à l'euro, confirmant l'opinion des consommateurs sur la hausse des prix. En outre, les Néerlandais sont les plus gros contributeurs nets au budget de l'UE. Dans un pays où le débat sur l'islamisme et la montée de la xénophobie anti-musulmane font le jeu de l'extrême-droite depuis plusieurs années, la perspective de l'adhésion de la Turquie a aussi servi de chiffon rouge aux adeptes du repli sur soi.

Face à ce deuxième échec, Bruxelles maintient sa ligne: le processus de ratification de la Constitution doit se poursuivre. Dès avant l'annonce du résultat, le président de la Commission européenne, José Manuel Durao Barroso, a lancé un appel à tous les dirigeants pour «éviter toute initiative unilatérale avant le Conseil européen», le sommet des chefs d'Etat et de gouvernement des 25 prévu les 16 et 17 juin prochains. Un appel à peine voilé au Premier ministre britannique Tony Blair, qui s'apprête selon la presse londonienne à annoncer l'annulation du référendum promis pour 2006."

Libération, 1/06/2005

O editorial de 1/06/2005 do Libération

"Le non du 29 mai ressemble une fois encore à un manifeste pour que le monde se fige, pour freiner à tout prix le déchaînement des forces qui bousculent irrésistiblement le monde. Il y a une tentation du repli protecteur dans le vote du 29 mai, pour tenter d'échapper à une insécurité sociale, urbaine, mondiale.

C'est ce qui rend difficile à avaler le rejet de ce traité un compromis difficile mais qui avait le mérite de créer un système de décision à vingt-cinq, de fournir une boîte à outils collectifs pour réguler les bouleversements mondiaux , c'est qu'il donnait des armes pour contrebalancer l'ultralibéralisme, pour réguler le marché, pour socialiser l'Europe. Tout ce dont on vient brutalement de se priver. Et ce sont les mêmes électeurs qui réclament des armes contre le tout-libéral, et qui viennent pourtant de détruire ce qui leur était proposé. C'est leur droit, mais ce faisant ils viennent de nous désarmer.

Il y a deux autres illusions fatales à la France. D'abord, l'idée que la France pèse encore d'un poids si considérable que l'Europe va naturellement offrir aux Français un nouveau texte. Nos concitoyens oublient que nous sommes 450 millions d'Européens, dont vingt-quatre autres pays qui ne dépendent pas de nous, qui ont leur mot à dire. Il ne se trouvera personne pour vouloir renégocier et il faut redouter comme inévitable que l'Europe d'aujourd'hui, l'Europe réelle, décide de renoncer à un projet trop ambitieux, cette idée que les Français avaient réussi à imposer à tous et dont ils ne veulent plus.

L'autre illusion : le traité a été rejeté parce que l'Europe paraissait être le fourrier du libéralisme. Bingo : les partisans du non ont gagné, non seulement la partie III du traité qu'ils contestaient mais qui va s'appliquer, le calamiteux traité de Nice qui empêche à peu près toute décision européenne, mais aussi le triomphe de Tony Blair et de sa conception très libérale de l'Europe, autrement dit plus de libéralisme et moins de régulation. C'est triste à pleurer.

Comme dans les illusions perdues, plus dure sera la chute. Pour les Français, pour les Français de gauche en particulier."

Serge July

Bartoon 2 de Junho



Luís Afonso
Público, 02/06/2005

1.6.05

Europa perdida nos "polder" da Holanda

Muitos prevêm que a parte do território holandês que se encontra abaixo do nível do mar (polder) vai, mais tarde ou mais cedo, ser a ele devolvida, afundada.
Mas mais cedo se afundou a Constituição europeia em terras de Países Baixos...
O resultado da votação referendária sobre o tratado constitucional europeu resultou em nova derrota do "não", com larga maioria. Segundo as primeiras projecções no Libération, 63 %.
Esta coisa da democracia é lixada: por um lado, constitui o melhos dos sistemas, apesar dos seus defeitos; por outro, permite que se misturem temas tão diversos como a integração europeia e a governação nacional... Acho que a Europa deveria merecer mais respeito.